horta solidária

HORTAS URBANAS AMENIZAM A FOME DOS QUE MAIS PRECISAM

Cultivadas sem agrotóxicos, verduras são destinadas a famílias de baixa renda


Eliane Contreras | Mar 09, 2022

As hortas urbanas cultivadas sem agrotóxicos têm ajudado a amenizar a fome de famílias de baixa renda e, melhor, com alimentos frescos, limpos e nutritivos. Um bom exemplo é a horta orgânica implantada há quase 1 ano na sede do Fundo Social de Solidariedade (FSS) do Guarujá, litoral de São Paulo.

São mais de 60 canteiros cuidados com técnicas naturais como a adubação por composteiras e minhocários. “Usamos restos da feira livre para acrescentar à compostagem. Os defensivos também são naturais: preparamos uma mistura de casca de banana e rolo de fumo para combater formigas e pulgões”, explica Ailton Jesus da Silva, professor do FSS e um dos idealizadores da horta solidária, que tem o apoio da primeira dama do município Edna Mota Suman.  

Diariamente, uma equipe rega as hortaliças e limpa os canteiros, além de observar se as plantas estão crescendo bem, se necessitam de sol ou, ainda, de cobertura para que se desenvolvam melhor. A cada plantio, a terra é readubada para receber novas mudas e sementes. “Dá trabalho, mas é maravilhoso saber que estamos ajudando a matar a fome de quem mais precisa e a despertar o cuidado com a terra”, diz orgulhoso Ailton, também conhecido como Chef Brown.

O projeto também tem como missão incentivar as pessoas a plantar o próprio alimento. “O cultivo pode ser feito em qualquer cantinho, dentro de paletes de madeira ou de garrafa PET, como fazemos na nossa horta.” Brown ainda orienta os beneficiários a levar sacolas reutilizáveis para a retirada das verduras e, assim, ajudar a reduzir o acúmulo de lixo plástico no planeta. 

Para receber as hortaliças, a pessoa precisa estar cadastrada no programa de cesta básica, organizado pelo Fundo Social em parceria dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) existentes no Município. Junto com a cesta, distribuída mensalmente para cerca de 80 famílias, são entregues hortaliças colhidas ali. Os tipos variam entre alface, beterraba, repolho, rúcula, acelga, espinafre, escarola, brócolis, almeirão, salsa, cebolinha e coentro, dependendo da época.  

Heliópolis: horta comunitária vertical

Inaugurada no início de 2021, a horta vertical de Heliópolis, comunidade de São Paulo com cerca de 200 mil habitantes, ocupa 19 metros de parede, com capacidade para 750 plantas por ciclo. Geralmente, são plantadas 15 espécies por vez, no sistema hidropônico. 

A horta foi idealizada com o apoio do projeto AgroFavela, que propõe combater a fome por meio da implantação de hortas comunitárias, visando melhorar a condição nutricional e a qualidade da alimentação das famílias. O projeto ainda tem como missão promover a conscientização para reduzir o desperdício de alimentos, além de treinar os moradores da comunidade para plantar hortas em suas próprias casas.

Paraisópolis: horta comunitária em vasos e canteiros 

Também parte do projeto AgroFavela, a horta de Paraisópolis é mais antiga que a de Heliópolis – tem quase dois anos e ocupa um espaço de mais de 900 m², que inclui uma horta vertical com capacidade para 960 pés de hortaliças, além de vasos de plantas em boxes e canteiros.

Geralmente, são cultivadas 60 espécies por vez, entre verduras, legumes e frutas. E a  produção já atingiu mais de 300 kg de hortaliças beneficiando mais de mil pessoas diretamente e de 5 mil indiretamente.

Moradoras de Paraisópolis cadastradas no projeto como “fazendeiras urbanas” recebem treinamentos e material para fazer o plantio em casa. A horta ainda funciona para o abastecimento da cozinha do projeto Mãos de Maria, que oferece diariamente mais de 5 mil marmitas para a população local. 

Hortas solidárias em Fortaleza

No início deste ano, Fortaleza também inaugurou uma horta social que, já na primeira colheita, beneficiou cinco entidades voltadas para idosos com 800 kg de hortaliças orgânicas. A iniciativa faz parte do Projeto Fortaleza Cidade Amiga do Idoso, articulado pela Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS).

Outras três hortas sociais que distribuem verduras e legumes a entidades beneficentes para idosos, localizadas em diferentes cidades do estado do Ceará, também costumam ter boas colheitas: ao longo do ano passado, a produção de hortaliças chegou a oito toneladas. 

São hortas cultivadas de forma 100% orgânica, em estufas de 750 metros quadrados cada uma, com irrigação automatizada (por gotejamento) e plantadas no sistema de vasos (fibra de coco estéril).

Rio: maior horta comunitária da América Latina 

Em Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, fica a maior horta orgânica comunitária da América Latina – ocupa um terreno, antes ocioso, com área equivalente a mais de quatro campos de futebol e rende, por mês, cerca de 2 toneladas de alimentos sem agrotóxicos.  

Geralmente, parte da produção é distribuída entre os moradores do bairro; e parte comercializada no Ceasa e nas barracas da horta em Manguinhos e a renda distribuída entre os horteiros (moradores que trabalham na horta). Mas, desde a suspensão das feiras em função da pandemia do Covid-19, toda a colheita (82 toneladas de alimentos orgânicos de março de 2020 a junho de 2021) tem sido doada para a comunidade.   

Cada integrante do grupo de horteiros, atualmente formado por 22 moradores, recebe uma bolsa auxílio da prefeitura pela colaboração no plantio e manutenção dos canteiros. Eles também dividem a renda arrecadada com a comercialização (suspensa durante a pandemia) das hortaliças.

Criada em 2013, a horta de Manguinhos faz parte do programa Hortas Cariocas, desenvolvido pela Secretaria do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, para contribuir com a redução dos índices de ocupação irregular em terrenos baldios ao mesmo tempo em que promove a inclusão social dos moradores locais. Estima-se que mais de 800 famílias sejam beneficiadas pela horta todos os meses. 

Rio: maior horta orgânica do mundo

O Rio também pretende inaugurar, ainda em 2022, a maior horta comunitária do mundo em área urbana, com 110 mil metros quadrados, construída em terrenos às margens da linha férrea do Parque Madureira, em Madureira, até o bairro de Guadalupe. Assim como a horta de Manguinhos, o novo projeto faz parte do programa Hortas Cariocas, e tem como objetivo gerar renda e segurança alimentar para 50 mil famílias locais, por safra, até 2024. 

Além da Embrapa, a iniciativa conta com a parceria da Light, já que corredores verdes estão sendo preparados embaixo das torres de transmissão de energia pertencentes à empresa carioca.

Na entrada da horta do Parque de Manguinhos, será erguido um memorial denominado Quilombo Agrícola Madureira, em homenagem às práticas quilombolas que eram realizadas na região.

Fotos da Horta Solidária do Fundo Social de Solidariedade de Guarujá: Helder Lima e Raquel Caxile